Lição de amor: cinema nos tempos da Embrafilme

por Rodrigo Cazes

Adaptação do romance de Mario de Andrade Amar, Verbo Intransitivo, Lição de Amor, realizado em 1975 por Eduardo Escorel, que foi o principal montador do Cinema Novo, tendo trabalhado, entre outros filmes, em: Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade, também adaptação de Mario de Andrade, São-Bernardo (1971), de Leon Hirzsman, O Bravo Guerreiro (1969) de Gustavo Dahl, além de um filme-símbolo do movimento, Terra em Transe (1967), de Glauber rocha. Já vivíamos, em 1975, os tempos da Embrafilme, estatal criada para cuidar dos interesses do cinema nacional nos setores de distribuição e produção, bem na vertente dos preceitos que o “milagre econômico” patrocinado pela ditadura militar pregava. O cinema brasileiro levava multidões às salas de exibição mas esse panorama não duraria por muito tempo, assim como todo o resto do “milagre”, até a estatal ser extinta em 1989 pelo então presidente Collor de Mello.

Em Lição de Amor temos um filme de encenação contida, de cunho psicológico-realista bem, apegado à narrativa clássica. Nesse sentido o filme de Escorel se aproxima menos do sentido de “cinema moderno”, conforme definido por André Bazin. Lição de Amor é um produto típico do “cinemão” que a Embrafilme pretendia realizar no Brasil, com uma preocupação muito forte na comunicação com o público.

O roteiro de Eduardo Escorel e Eduardo Coutinho (o mesmo que agora é famoso por seus excelentes documentários) modifica um pouco o foco do livro de Mário. Não haveria mais sentido em fazer uma crítica ao moralismo de uma família burguesa em 1975, quando vários tabus já haviam sido derrubados. Temos mais um drama de natureza psicológica investigando as transformações na vida da família Souza Campos após a chegada da governanta, principalmente no filho Carlos, em sua relação com Elza. O filme também possui uma componente sexual muito mais explícita do que o livro de Mário, o que era uma constante nos filmes brasileiros do período, por vários fatores. Na época não havia nu na televisão brasileira e nem existiam aparelhos de vídeo-cassete caseiros. O cinema acabava sendo uma fonte de escoamento para atender a demanda por esse tipo de representação.

O livro de Mário de Andrade já contém elementos de composição cinematográfica em seu texto, temos uma estruturação por cenas, sem capítulos, como era a norma dos romances tradicionais e essas cenas vão sendo cortadas de uma para outra, sem uma marca indicativa no texto, como em um filme. Sem dúvida a paixão de Mário pelo cinema, na época um signo de modernidade, uma arte identificada com a contemporaneidade e os artistas de vanguarda, influenciou esse aspecto da composição do livro. Outro aspecto que influenciou o livro de Mário foi o expressionismo alemão.

No filme de Eduardo Escorel toda essa influência expressionista foi retirada, em prol de um realismo mais adequado aos propósitos comerciais que o filme tinha.

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