Person na contramão

por Cândida Maria Monteiro*

Luiz Sergio Person passa rápido pela cena cultural brasileira. Ator, publicitário, diretor de TV, produtor e diretor de teatro e cinema. No início dos anos 60, Person estuda cinema em Roma, no conceituado Centro Sperimentale, onde entra em contato com o cinema moderno europeu, o Neo-realismo e a Nouvelle-Vague, e com o cinema independente americano. Durante esse período, trabalha como assistente de diretores importantes, como Luigi Zampa, dirige três curtas (Alladro, L’ottimista sorridente e Il Palazzo Doria Pamphilj), representa o cinema italiano nos Festivais de Veneza e de Bilbao e conquista prêmios. De volta ao Brasil, estréia na direção de longa-metragem com São Paulo S.A. (1965), que se torna um marco na história do cinema brasileiro moderno.

Person projeta um drama totalmente novo nas telas brasileiras. Em São Paulo S.A. a câmera do cineasta aponta para a problemática da classe média urbana, também vítima do desenvolvimento econômico. De certa forma, esse enfoque coloca Person na contramão do movimento cinemanovista que até então retratara as contradições do homem simples; do cangaço no meio rural e da favela na cidade grande.

No segundo longa, O caso dos irmãos Naves (1967), Person realiza um filme arriscado. Através de uma alegoria política, o filme denuncia a tortura que vinha acontecendo no país em plena ditadura militar. Tendo realizado seus dois primeiros longas com um olhar socialmente comprometido, Person, em seguida, parte para a comédia. Produz e dirige em 1968 uma paródia do western, o longa Panca de valente e em 1972, o seu último filme, Cassi Jones, o magnífico sedutor, uma comédia pop carioca, que homenageia o teatro de revista, a chanchada e diversos gêneros do cinema nacional.

Polêmico, o cineasta faz questão de manter sua independência: " o Cinema Novo é um negócio magistral e ao mesmo tempo vazio." Sua posição contrária ao movimento hegemônico na década de 60 é sem dúvida relevante e enriquecedora para aquele momento, em que a dramaturgia brasileira ocupava o centro dos debates culturais. O diretor paulista destoava da opinião dominante no meio cinematográfico, por exemplo, ao cultuar desde o início, o cinema de Zé do Caixão, da Boca do Lixo, a chanchada de Oscarito e Violeta Ferraz, entre outras manifestações rechaçadas pelo grupo carioca.

Antes de completar 40 anos, há exatos 30 anos, Person morre em um acidente automobilístico, deixando uma breve mas importaníssima obra que merece ser (re)conhecida. E é justamente essa a proposta do CinePuc: resgatar o trabalho de um dos mais originais criadores do cinema brasileiro no ano em que se comemora 70 anos do seu nascimento.

*Candida Maria Monteiro é professora da PUC-Rio e autora da dissertação de mestrado Em busca de Luiz Sergio Person, um cineasta na contramão.

Nenhum comentário: