Marina Person - Entrevista

Encontramos Marina Person na abertura do XI Festival Brasileiro de Cinema Universitério, dia 30 de maio de 2006, no Centro Cultural dos Correios, no Centro do Rio de Janeiro. A mostra, que neste ano homenageia Luiz Sérgio, passará todos os filmes do cineasta. Person, filme dela sobre o pai, em sessão exclusiva, tinha acabado há pouco. Luzes acesas, à beira do palco, cortada por amigos que vinham com elogios e convites ao coquetel, e muito solícita, a diretora nos concedeu cinco minutos de conversa, que se transcrevem a seguir:

CPB: O filme é um depoimento emocionado sobre a história do seu pai, sobre a ausência do seu pai... Como você mistura um depoimento e ao mesmo tempo uma espécie de guia para os filmes dele?
É, na verdade o filme reflete bem o que foi o processo, né, uma viagem pessoal de descoberta tanto da obra dele quanto da pessoa: o Person pai, o Person marido, o Person diretor. Então o quê que era, quem era ele? Na verdade a busca é essa: Quem é o meu pai? Quem é essa pessoa, que é meu pai, que todo mundo fala tanto e eu mal tive contato. É isso: uma viagem pessoal, intimista, de descobertas.
Tive que tentar dosar, para não ficar uma coisa muito pessoal, aproveitando que ele trem um trabalho, que ele tem uma obra, uma trajetória como cineasta. E dar uma pincelada até na história do cinema brasileiro, também.

CPB: Como era a relação dele (Person) com os filmes dele, no dia-a-dia?
Acho que ele tinha uma coisa muito livre de falar. É o que tá no filme. Pode fazer um filme como São Paulo e como os Naves e aí se divertir e fazer uma comédia como Cassi Jones. Ele tinha uma coisa assim de querer falar para muita gente, atingir o público, ele achava que o cinema era isso. Era um espetáculo que tinha que ser visto por muita gente. Era um bom comunicador, em todos os sentidos.

CPB: Isso te influenciou na sua escolha profissional?
Com certeza. Com certeza eu fui fazer cinema porque desde criança eu tive contato com cinema, sempre gostei muito, achava demais, achava mágico, até hoje. O cinema tem isso, esse poder de transportar mundos pra lá e pra cá e trazer épocas de volta, e viver coisas que você não viveu, acho o cinema isso: mágico. Muito poderoso.

CPB: A gente está percebendo, lá na PUC a tese da Cândida, você lançando o documentário, o cineclube, o festival homenageando o Person... que parece que está voltando...
A idéia é essa, que a gente consiga trazer, pelo menos para mim. É um pouco isso, é superimportante isso estar acontecendo aqui no Rio, porque o papai sempre ficou muito reconhecido em São Paulo e aqui no Rio sempre foi uma coisa mais difícil, né. Então, acho que é até uma coincidência, mas é demais.

CPB: E ele ficou um pouco isolado, né, naquele contexto no Cinema Novo...
É, ele não pertencia a nenhum grupo, assim. Sempre foi um cineasta totalmente independente, sempre fez as coisas dele sem se preocupar se ele tava fazendo de acordo com um ou outro grupo, ele sempre... é isso, ele fazia o cinema que ele queria. Agradasse a quem agradasse.

CPB: Qual o seu filme preferido?
São Paulo S/A.

Marcelo Tavela: Você mostra os trabalhos dele mas é um filme muito pessoal, porque ele era seu pai. Você teve que se expor muito, e a sua mãe, a sua irmã. Como é que funciona essa coisa?
É, essa parte foi difícil, ainda mais com ela. Porque de repente eu cheguei e Ah, quero fazer um filme sobre o papai. Esse filme incluía muita gente que tinha que topar, senão não rolava, não tinha filme. E elas toparam. É duro, foi duro para a gente. Minha irmã, minha irmã era muito nova também quando ele morreu, mas acho que minha mãe sentiu mais, assim.

CPB: Você ficou satisfeita com o resultado final, achou que ficou bem dosado?
Achei. Achei que ficou um equilíbrio bem bacana. Óbvio que cada vez que eu vejo eu que Ah, faltou tal coisa. Mas é assim, se deixarem você fica mexendo até o resto da vida, né, então... Hoje vi aqueles comerciais que o Aleques telecinou lá e falei Ah, isso aí podia estar no filme...

CPB: Como é que tá pra lançar o filme?
Vou lançar em algum festival antes. Festival de Brasília, Gramado, não sei. acho que Brasília e depois vou lançar comercialmente.

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