WHK, uma carreira de êxitos

publicado na revista Filme Cultura (nº74, 1973)

Prêmio de melhor direção por As Deusas, Walter Hugo Khouri é considerado como um dos cineastas mais pessoais do cinema brasileiro. Sua obra, séria e digna, tem se pautado por uma rara coerência que faz com que seu cinema seja considerado de autor.

Nascido em São Paulo, em 1929, Khouri fez seu primeiro longa-metragem em 1951/3, O Gigante de Pedra, com escassos recursos. Já seu segundo filme, Estranho Encontro (1958), não obstante o baixo custo, obteve grande repercussão na crítica que elogiou a tensão e o intimismo obtidos. Fronteiras do Inferno (1959), o terceiro filme, foi também sua primeira experiência na cor, mas passou algo despercebido. Em seguida, com Na Garganta do Diabo (1960), o cineasta seria laureado com o prêmio de melhor argumento no Festival Internacional de Mar del Plata.

O êxito comercial só vem com A Ilha, que junto com O Palácio dos Anjos, são dois títulos detestados por Khouri. Porém Noite Vazia (1964), não só é apontada pelos críticos como a sua melhor realização, como também logra êxito sem precedentes, tanto no Brasil quanto no Exterior. Depois de fazer um episódio para As Cariocas (1966), dirige O Corpo Ardente com a atriz Bárbara Laage. Em 1968 fez As Amorosas e, em 1970, O Palácio dos Anjos.

As Deusas é o décimo longa-metragem de Khouri que diz: "Acho que filmes não devem ser explicados, mas sentidos, absorvidos, entendidos. No caso de As Deusas, isso é mais verdade do que nunca. É um filme para o plexo solar do espectador e não para sua compreensão racional, para seu entendimento direto."

A respeito das relações desse filme com os outros, Khouri é categórico: "As relações são todas, totais. Não vejo como é possível fazer filmes sem que os mesmos estejam relacionados entre si, desde que as mesmas pessoas os fazem e essa pessoa é uma soma, uma personagem individual. Para mim O Corpo Ardente e As Deusas são um único filme, apesar das diferenças aparentes. São uma mesma entidade, o prolongamento um do outro. Não foi premeditado, mas aconteceu assim, espontaneamente. E isso só me alegra, pois O Corpo Ardente sempre foi meu filme favorito. Quanto a isto, agora terei que dizer Corpo Ardente - As Deusas, pois já não posso separar um do outro."

Khouri ficou contente de ganhar a Coruja de Ouro, "o prêmio mais importante do Brasil, atualmente. Num trabalho difícil como o do cinema brasileiro, num ambiente tão duro e exaustivo, qualquer reconhecimento é reconfortante, é um estímulo, principalmente quando é oficial e para um filme sem concessões. Eu já tinha ganho o prêmio INC, mas a Coruja propriamente dita, foi a primeira".

Agora, prepara-se para lançar seu novo filme. Trata-se de O Último Êxtase, que gira em torno de um adolescente, Marcelo. Com 18 anos, ele está inquieto, insatisfeito e revoltado. Por isso, resolve sair de casa por algum tempo, indo acampar num lugar deserto, na companhia de alguns jovens da sua idade. Mas, posteriormente, o convívio com estes e a presença de um casal bem mais adulto levam o protagonista novamente para a angústia e a frustração. É quando a procura de seu êxtase transforma-se então numa revolta impotente, mas da qual ele não abdica, nem abre mão. "É uma fita - diz Khouri - que, mais ou menos, se inscreve diretamente no clima de As Amorosas, numa tônica de divisão masculina, num tom um pouco mais realista do que As Deusas e outras fitas minhas."

O elenco é formado por Lilian Lemmertz, Luigi Picchi, Ewerton Castro, Dorothée Marie Bouvier, Angela Valerio e Wilfred Khouri, o filho do diretor, que vive o personagem de Marcelo. Com iluminação a cores de Antonio Meliande (revelado em Paixão na Praia), a fita teve montagem de Silvio Renoldi, música de Rogério Duprat e produção de Alfredo Palácios e Antônio Galante, todos presentes na ficha de As Deusas.

Agora Khouri deverá decidir entre vários projetos. A sua preferência recai sobre As Feras, que deverá ser um "filme de terror metafísico passado numa estalagem do século XVII, abordando problemas do subconsciente. O outro projeto meu é "O Enigma", que pretende dissecar todas as repressões que existem nas relações pai-mãe-filha. Há ainda a intenção de fazer "O Desconhecido", mas acho que o mais provável será "As Feras".

transcrito por Mario Cascardo

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